Carregal




Localizado num vale, próximo da Lagoa a localidade do Carregal, referenciada pelo menos desde o século XIV, poderá dever o seu topónimo à sua localização geográfica: Carregal é a designação dada a um local onde crescem carregas, plantas típicas de terrenos pantanosos, como o seriam então, pelo menos no Inverno os terrenos em volta.

Embora crescendo menos que o Bairro, é possível detectar, pelos menos a partir de meados do século XVII, um núcleo urbanístico de pequenas casas terreas, currais e palheiros estabelecido em torno do " Rocio" que corresponderá atualmente , ao "Largo do Jogo" (assim designado provavelmente porque aí existiu o tradicional "Jogo da Bola" ou do chinquilho).

Esse núcleo irá evoluir de treze casas, em 1648 para vinte e cinco em 1764, e trinta em 1775, passando assim a aldeia a ser uma vintena, designação dada às localidades com mais de vinte famílias que podiam dispor de juiz próprio – o juiz pedâneo ou da vintena- para resolver pequenos conflitos locais, sem necessidade de deslocação à sede do concelho.

A produção vinícola e cerealífera (as terras de "pam"), predominam na localidade, tal como nas limítrofes (Arelho, Trás do Outeiro), de onde aliás são oriundos alguns dos residentes. Vinha e cereais intercalam, no entanto, como por toda a região de Óbidos, com pomares,oliveiras almoínhas (hortas) e matos. A produção seria escoada, quer para a vila e vendida no mercado existente no "Rocio do Mocharro", quer para outras partes do país, através dos portos marítimos de Salir e Atouguia.

A par da atividade agrícola, podemos detetar uma atividade económica ligada à Lagoa pelo menos a partir dos inícios do século passado: a exploração de salinas nas suas margens ocupou, até há algumas décadas atrás, uma parte da população que vendia a produção para alguns estabelecimentos comerciais do concelho.

As ligações familiares com as vizinhas localidades do Arelho e de Trás do Outeiro (que permitem equacionar a hipótese da aldeia ser uma zona de passagem para os moradores) e a proximidade das capelas dessas localidades, bem como da própria sede de freguesia (Igreja de São João do Mocharro), poderão justificar que a aldeia, só recentemente, tenha construído a sua própria capela.

Não obstante, o população realizava, desde o século XVIII, uma festividade religiosa ligada ao Santuário do Senhor Jesus da Pedra: o Círio do Carregal que, no dia de quinta-feira da Ascensão levava os moradores até ao recinto do referido santuário. Em comemoração dessa tradição e aquando da realização do círio no ano de 1997 (ano em que o santuário fez 250 anos), foi oferecida aos romeiros uma réplica da imagem do Senhor Jesus da Pedra, tendo na base um fragmento da Cruz.

Diz a lenda que, entre o ano de 1909 e 1910, houve uma grande seca, não tendo chovido durante esse período. Então, no mês de outubro de 1911, a população do Carregal, Arelho e Trás do Outeiro juntou-se e falou com o padre para que este realizasse uma missa para pedir chuva. O padre aceitou, marcou o dia e a missa realizou-se junto ao cruzeiro (que se encontra junto à rotunda do Carregal com o Arelho). Logo depois da missa, realizou-se uma procissão até ao Santuário do Senhor Jesus da Pedra, onde cada aldeia com as suas bandeiras iam rezando pelo caminho e no final de cada oração, levantavam as mãos ao céu dizendo:

"Ó meu Deus mandai-nos águas,
que já temos as terras secas.
Ó meu Deus mandai-nos águas,
que nelas se abrem gretas."

Ao chegar ao Santuário do Senhor Jesus da Pedra, celebrou-se outra missa e logo se começaram a ouvir trovões. A seguir veio a chuva, tendo as pessoas regressado molhadas a casa.
E assim acreditaram no grande milagre!

Galeria de imagens

Partilhar: